Estamos em toque de recolher, guerra quente. Estado de Sito de lavouras arcaicas afirmando-se super modernas, super corretas, super bacanas. E parece que não sentimos as facadas. Estamos em transe, ainda. E parece que hoje é melhor que ontem, e não é? Sim, o agora das TVs de plasma e celular com câmera. A internet ilimitada limitou qualquer interrogação fora do Google. O oráculo da humanidade é o Google, pergunte ao Google, ok?! E se ainda tiveres dúvida, te conformes. Não podemos saber tudo ou enlouqueceremos. No filme de Hitchcock, o homem que sabia demais não morreu, mas foi perseguido. Na vida real, temo mesmo a esquizofrenia. Quero a ignorância de um peixe, esquecer, esquecer, e continuar procurando Nemo como se nada tivesse acontecido. Então, cansarei e cairei no sono dos justos, sem essa frescura de insônia, crise de consciência ou problemas morais. A moral é palavra sumida, de conceito frágil e mal entendido. Poderia também fazer uma endoscopia toda semana e me dopar com consentimento médico. Poderia viver de tarjas pretas, entrar numa e ainda cobrir a nudez do meu cérebro aos olhos curiosos do mundo. Poderia naufragar numa ilha deserta e fingir que estou só. Sendo um peixe dopado não lembraria dos satélites do Google Earth, mas com certeza teria acessado o Google Maps para chegar lá. A ilha seria aquela do DiCaprio, com a plantação imensa de maconha. Mas diz o Google que aquilo tudo foi destruído pelo tsunami. Seja qual for, preciso achar um jeito e dar um lost na minha cabeça.
sábado, 23 de outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
(In) Vertebra
Uma Naja não deslizaria tanto
nem apertaria minha carne com força de dez cordas
nem molharia entre meus seios com o suor do seus
se arrastando entre rochas e fendas, não me provocaria.
Uma Naja sibilaria a calda pregando envenenar
Soltando odores que eu não reconheceria
Por não ser da espécie
Por não conhecer peçonhas do tipo.
Uma Naja não estaria à solta
nem levaria pedaço sem me levar à morte
nem trocaria a pele pela minha
se arriscando cada vez que pulo alto.
Uma Naja não assustaria tanto.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Do livro "Faro" ( em produção)
Ele/ Ela
“Gloria Deus, nosso Pai!” Fim do culto.
É quando junta gente pra pedir conselho ao Pastor. Ele sabe falar, faz o gosto do rebanho. Fala manso, toca no ombro da gente, alisa a própria cabeça, levanta as calças. Tem certo pigarro de homem sério, recebe respeito por isso. Sempre solta frase feita quando os últimos estão à porta, um bordão: “Vão em paz pelo caminho de Deus.”, diz com fervor. “Amém!”, ele mesmo responde.
Recolhe a “palavra”, os dízimos, o paletó. Depois de afrouxar a garganta suada, recolhe a gravata e leva tudo à salinha ao lado. Televisão tela plana, DVD, geladeira Cônsul, um fogão de forno ainda quente - do qual Ele sempre espera um bolo - um discreto sofá-cama e nele, a Mocinha que limpa a igreja. Quando percebe que o culto está no fim, a Mocinha espera pelo Pastor, espera pelo momento mais pesado da faxina, pela parte gordurosa, a parte que por força finge que gosta.
O Pastor reclinado no sofá, espaçoso, abre as calças, espera que a mocinha puxe o resto. Ela é rápida, Ele pede calma. Alisa entre as pernas dela, sempre secas. Ele a lambe, ela chora.
A Mocinha veio nova, quinze anos, de Catende quando a usina fechou. Com morte de pai e mãe, não fala muito. Pensa sempre no Apocalipse, de como morrerão todos na fogueira de Deus. De como ele será o primeiro. Pensa sempre no que ouve encostada à parede, no que gritam os fiéis sobre o “Deus do Impossível”. Pensava no que falam sobre “destruir o inimigo”, sobre “as mil faces do Diabo”, o diabo era ele. E mistura tudo; a glória, o trono sagrado, as trombetas. Todo sonho é ruim.
- Tá chorando por quê? Já disse que me dá agonia quando você começa a chorar. Já disse também, que quando você ajuda o Pastor relaxar ajuda a Deus.
Ele nos olhos dela, ela de olhos fixos no nada, não havia expressão nem no choro. Lágrima corre, piga nas calças dele. Ele acha que urinou. Levanta-se envergonhado, tem problemas com isso - urinou até a adolescência, na cama onde dormia com dois irmãos mais velhos. Apanhava toda manhã – ele vai ao banheiro, ela enxuga o rosto. Ao som da descarga acende o fósforo, abre o forno, liga o gás e tão rápido quanto a luz, o Apocalipse chegou e o bolo virou farinha.
Do livro "Faro" ( em produção)
Pimenta
Nina a baliza, vermelha e ardida,
saltitava pipoca todo Sete de Setembro
quando deveria marchar junto a Banda de Fanfarra.
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