“I have a dream”¹ disse Martin Luther king. E o poeta Valmir Jordão foi para São Paulo, mas antes também ecoou seu discurso “boêmio” aos nossos ouvidos: “Por que apenas nós, poetas, escritores pernambucanos, não somos organizados? Músico aqui tem sindicato porra! E nós?” É Valmir, pergunta difícil! Creio que a respostas pode estar desde a forma como praticamos nosso trabalho, somos sós, o escritor, ele mesmo e mais ninguém, os egos inflados pela ignorância completa do outro, a falta de referência do outro, sabemos apenas sobre nossa própria dedicação. Porque não se escreve um livro em conjunto, porque em conjunto no máximo roteiro de filme ou novela de TV. Por que não se escreve um livro em conjunto? Fazer parcerias na produção de uma obra deve ser fantástico, entrar no mesmo ritmo, completar o outro, também nisso tenho inveja dos músicos. É uma afinidade a qual não nos permitimos natural e historicamente. E se pudéssemos mudar nossa natureza solitária e nossa história de desunião, faríamos coisas lindas. Inclusive nos organizarmos como segmento artístico, profissionalizarmos nosso ofício e talvez evitarmos migrações como a de Valmir. O cérebro é razão, mas o coração é Recife. Mesmo que falemos mal, não queremos ir. Apesar de que, com “sorte”, transforma-se a saudade num “Angu de Sangue” tal qual o escritor Marcelino Freire, nas “Memórias da Cana” tal qual o diretor de teatro e escritor Newton Moreno ou mesmo o Cordel do Fogo Encantado, com uma “Transfiguração” que não resistiu ao frio exterior, ou transforma-se em mais solidão ou é apenas saudade. What's happening in uor brains? Certa dose de sabedoria instintiva ainda nos falta. Precisamos de mais algumas encarnações para evoluir de Coletivo Literário a Parceiros Literários e assim estarmos mesmo em plural. Eu tenho um sonho. Procuro desafiar estas leis, procuro desafiar o escritor recifense, pernambucano, brasileiro, companheiro de verbo, irmão, igual: Vamos ser parceiros, vamos ser plural? Alguém quer escrever um livro comigo? E seremos livres! “That Liberty Ring”².
Ana Maria Pereira
Escritora e Produtora Nós Pós
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¹. “Eu tenho um sonho” Frase inicial do discurso de Martin Luther King, pronunciado na escadaria do Monumento a Lincoln, em Washington, e ouvido por mais de 250.000 pessoas de todas as etnias, reunidas na capital dos Estados Unidos da América, após a Marcha para Washington por Emprego e Liberdade.
². “Que a liberdade ressoe”. Frase final do mesmo discurso.
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