terça-feira, 4 de agosto de 2009

Carne de Sol

De um lado para o outro da praia o suor corria pelo rosto. Do maxilar, por entre os pelos da barba, até o queixo e caía, fazendo todo o percurso em quinze segundos. A areia chupava suor, o sal se unia a areia.
Washington. Entre os outros é referência. Homem de praia. Grades de cerveja na cabeça. Tipo que é só braço, só peito. Mãos que passam áspero. Virou homem de baixo de sol. Não acha que mudar de vida é algo a se pensar. Sem planos futuros nem grandes riquezas. Folga as quintas-feiras e uma rinha de galo. Não faz apostas. À noite, forró daqueles de dançar se esfregando. Do chamego ao motel do motel ao dinheiro, reservados pra ocasião. Não saía do eixo. Não repetia mulher, não queria filhos. Tinha dotes pra fazer bem feito qualquer cria.
Washington, em inglês. Homem de briga de areia, da briga diária da areia e dos pés descalços, estivando grades de cerveja geladas. Pagamento por hora. O joelho vai ao chão, a grade ao joelho, do joelho ao ombro. Corpo erguido novamente, do calçadão à areia, o movimento se repete. Um clássico dos domingos. Quanto mais sol mais suor, mais Washington dentro da areia, mais pele queimada, mais cerveja.
Ganhava o churrasquinho, o cachorro quente, o caldinho de peixe. Ganhavam todos em dias de Washington. Sede que dava! Calor que era calor de sol e excitação. Coisa de praia, de biquíni, de sunga molhada. Maresia elétrica até as quatro da tarde. Às quatro e meia, topava tomar uma ou duas ou mais, dependeria do rabo de saia que o convidasse. Disputa pela carne de sol. Disputa pelo Homem. Era quando ele escolhia. Escolhia pelo porte, pela bunda, pelo fio dental, por outra carne de sol, pra roer até o osso.
Salgado, quente, não pode evitar. Escolha errada. Faca no peito fura e retalha. Sangue na areia mancha marrom. É traição. Corre o traído quase linchado pela praia. Fica Washington, carne abatida. Ninguém comeu mais ninguém.


10. 10. 2008

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