terça-feira, 4 de agosto de 2009

MIRANTE

Do fundo da casa dele só dava pra ver o sorriso dela por um retalho quadrado através da janela. Só dava pra ver mesmo no escuro. Apagava todas as luzes e também sorria.
Pensava quando poderiam morar juntos. Casar mesmo. Morar nela. Deitar sobre, flutuar, entrar em transe.
Parte da sua rotina era esperá-la, vê-la chegar e partir, e por isso não dormia muito. Noites em claro espiando, espiando pelo retalho o momento em que se cobre. Mesmo embaixo do pano ele a percebe. Ela tem luz. E quando se descobre até as ondas do mar vibram também.
Ele, lobo homem, não se permite virar para não assusta-la, não quebrar o encanto.
Suspira. Quer ser o único a cobiçá-la, único na mesma órbita. É mesmo um lunático. Quer uma corda, uma ponte, um laço, segura-la, medo que não volte. Ir com ela. Chamar-se Jorge, a quem rogava pragas de ciúme.
Mataria qualquer dragão para ir à lua.


14.03.09

Nenhum comentário:

Postar um comentário