terça-feira, 4 de agosto de 2009

Farinha



Construção chumbo grosso. Sobe cimento, desce entulho. Mistura, mistura, mistura. Quanto mais trator escava mais terra tem pra cavar. E Reginaldo Xavier não é homem de perder serviço. Não relaxa depois do almoço, diz que pra ele tem isso não. Gosta de mostrar serviço pronto, forma de manter-se na ativa. Já passa dos 60, hoje só se vê homem moço nessa área: - Homem velho tem mais é que se aposentar! Brincam os outros. Reginaldo Xavier faz que não liga, faz que agüenta mais do que pode, faz de conta que não é velho. Construção é luta de boxe, envelhece cinco a cada ano. É sol e é poeira.
Reginaldo Xavier ainda acha que mulher se tem que conquistar, como não se acha velho, gosta das de vinte ou trinta. Gosta mesmo de Jakeline da Conceição. Passa mal quando ela rebola na frente do canteiro de obra, na frente dos outros machos e ele diz: - É minha! - Ela, fogosa, faz pose como se tirasse foto, depois passa. Era só pra atiçar, água na boca deles.
Jakeline da Conceição espera Reginaldo Xavier com uma calcinha preta que ele ainda suado gosta de rasgar. Não usa sutiã, peito pequeno. Calcinha no chão, short sujo de terra, camisa aberta, o pêlo dele, o gozo dela e ele, não gozou.
Reginaldo Xavier nunca broxou antes. Pensa que não é possível, ela não vai entender, ele não entende. Pensa pela primeira vez que ficou velho. Um homem entende outro. Pode ser o primo, família pode, amigo tira onda melhor não dar cabimento. Ia ter vergonha mesmo então, melhor o primo.
Na construção de Sydclei Xavier a argamassa é outra. Cimento pesado, fuligem grossa, poeira fina, pó! Vende, consome, oferece. Reginaldo Xavier nunca provou. Nuca foi dessas coisas, já nem fumava há uns 10 anos, nunca topou droga pesada. Sabia do primo, toda favela sabia, mas família é família, criado junto, quase irmão.
Reginaldo Xavier quase vermelho, sorriso amarelo, passa a mão no boné surrado, leva o boné ao colo, amassa o boné: - Broxei primo, e agora?
Sidcley oferece um gole da cerveja quase quente que tomava antes do almoço. Reginaldo aceita e também aceita o Viagra que o primo usa quando se sente impotente: - Eu nunca falho primo, pode confiar! Uma carreira ou duas?
Farinha da boa pra botar cavalo pra brigar. Farinha da fina, pro pirão não engrossar. Farinha da braba pra levantar defunto. Farinha todo dia, pra saia curta da neguinha não matar o velho.
Super Reginaldo Xavier, o homem. E a noitada é longa. Jakeline da Conceição chega em casa ás cinco da manhã, sem chave, pula o muro, quase sem força depois de tentar acalmar a instigação do namorado. Ele, volta pra casa feliz por ser homem, desce a ladeira e no primeiro beco cai duro de infarto fulminante.

16.06.09

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